Já passaram por mim mais de 100 pessoas no processo de selecção. É muita gente. Demasiada informação para ser pensada.
Tive algumas entrevistas marcantes. Umas pela excelência, outras pela pobreza e outras ainda pelo insólito.
Ontem, entrevistei uma colega de psicologia clínica. Não a conhecia. Fiquei com pena da "minha" (se é que é minha) classe. Eu sei que não anda propriamente fácil arranjar emprego na nossa área. Entendo perfeitamente a necessidade de trabalhar, ainda para mais com uma bolsa de formação aliciante. Mas eu fico doente, juro que fico doente quando me aparecem pessoas que nem sabem ao que vêm. Numa de três possibilidades de inscrição, escolhem a única que tem uma sigla. Pergunto se sabe o que quer dizer e responde-me que não. Pergunto qual é o interesse e diz-me que é muito. Eu pergunto, mas como é que pode ter interesse naquilo que se inscreveu, se não sabe o que é?!? ... Informem-se antes de vir à entrevista.
Hoje, mais uma psicologa clínica. Em 20 minutos, repetiu 40 vezes o verbo ajudar. Diz que não sabe qual é o sonho dela. Entrou para psicologia porque queria ajudar os outros (é bonito, mas pouco profundo). Tirou psicologia porque quer ajudar os outros (é repetitivo e pode tornar-se compulsivo). No futuro vê-se a ajudar os outros com a prática da psicologia (é doentio e já estamos no campo do delírio psicótico). Mais uma vez e em consonância com a colega anterior, escolheu a sigla das 3 possibilidades de inscrição. Dizia que queria ajudar as pessoas do ponto de vista dos alimentos, é o que ela entendia por HACCP. .... É o desespero total. Só não sei se é o meu, se é o dela.
.... Escusado será dizer, mas vou dizer, perdi as estribeiras. Onde andam vocês, enquanto tiram o curso de psicologia? No 12º ano, quando se tem psicologia pela primeira vez, é natural que sintam vontade de ajudar o outro. Quando terminam o curso, percebem que não podem ajudar? Até podem dar o pino e a cambalhota de seguida. Ajudar, não. Podem ser peritos em técnicas de mundança de comportamento e podem ser facilitadores ou canais de mudança. Ajudar não. Podem ser espelhos de acolhimento e entendimento. Ajudar? Ajudem-se a vocês próprios na vossa senda pessoal. Podem iluminar, mas o outro e somente o outro é que pode ligar o seu próprio interruptor.
Quando isto terminar.... vou ver se arranjo tempo para escrever um livro. Há tanto material para ser usado que dava para escrever uma triologia.
Ps: Mais uma dica: não olhar a(o) entrevistador durante os 20 minutos de duração da entrevista não é bom sinal. Mas agrava-se a partir do momento em que estão sistematicamente a olhar para o antebraço. Mais ainda, é gritante quando passam a mão pela língua para limparem o dito antebraço.
5 comentários:
Tive na passada quinta feira um vislumbre daquilo que deves ter passado, no seguimento de um JobShop onde estive presente em representação da minha empresa. É de facto difícil, sermos confrontados com algumas situação, algumas pessoas, algumas historias de vida bem complicadas, principalmente quanto consideramos estar num emprego simpático e estável. Mais difícil ainda, é ver o estado de desespero e quase plena alucinação que as pessoas entram, quando anseiam por uma hipótese, uma oportunidade, seja em que área for, seja a fazer o que seja…”Sabes ao menos ao tipo de trabalho que te estas a candidatar? Não, mas eu concorro a tudo”…”Estamos à procura de programadores. Eu sou de Engenharia ambiental, mas posso-me integrar perfeitamente”…”Sou de matemática aplicada, será que tem uma vaga para mim?”. Este tipo de coisas, fui ouvindo, apesar da fraca afluência…
Como se responde a isto, como se reage? Não sei, mas continuo a pensar, que não posso enterrar as querenças os desejos e as vontades de quem continua a lutar “Inscreve-te, quem sabe não poderás ser a massa que unirá duas pedras basilares. Aqui o que é preciso é muito dinamismo, muito vontade e muito querer”. Seria mais sincero se dissesse, “não tens lugar neste tipo de empresa, não tens competências para isto, é melhor procurares noutro lado”? Provavelmente…
LOL
LOL
LOL
Sim, a mim agora também já me dá vontade de rir! Vamos lá a ver o que acontece nos próximos 3 dias.. :D
... daqui a pouco quem precisa de "ajuda" sou eu.. :P
Língua e antebraço?
Não posso...
Poderias é fazer um curso, do qual adviesse o livro "como se preparar para entrevistas de trabalho".
Acho que é uma das (milhentas) coisas que nos fazem falta...
E quanto a ajudar... Vou ajudar-te não dizendo nada ;-)
Bjos
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