segunda-feira, maio 22, 2006

Dias Cinzentos



Apetece-me escrever. Só não sei sobre o quê. Até na escrita se reflecte o meu estado actual: uma melancolia que se instala, que se encosta e que se perde na minha sombra. Apetece-me gritar por socorro. Apetece chorar-me e mergulhar na dor. Apetece-me ser alguma coisa que não eu.

Não, afinal não me apetece nada disso. Afinal gostaria de ser eu. Quero ser aquilo que nasci para ser, e já! E não venham com merdas de ensinamentos que ainda estou na preparação daquilo que nasci para ser. Não acredito em tal coisa, não existe tal coisa. Ou somos ou não somos aquilo que nascemos para ser, não há preparação para tal coisa. Ou somos ou não somos. Ou estamos no caminho que é um reflexo daquilo que somos ou não estamos. E eu não sou aquilo que deveria de ser. Sou um espectro que vive na sombra daquilo que poderia ser. Sou uma ferida aberta que não cura. Sou um estar que não está. Sou a pouca coragem que pede coragem. Sou a tristeza que pede alegria. Sou a vida que pede vida. Sou o sonho que pede que tome forma. Sou o sentir que pede para sentir mais. Sou a loucura que se pede loucamente sã. Sou o abismo que pede o salto.
Não sou nada.
Em todo o instante boicoto a entrada nesse estar que sou eu. E aí sim, acredito. Sim, a todo o instante temos o poder de escolher. E eu escolho estar miseravelmente perdida na dor e de não estar a ser eu como poderia ser.

E agora sim, vou gritar: "Socorro!!! … Salva-te de ti mesma."

Afinal, já não me apetece escrever.

quinta-feira, maio 18, 2006

Estares

Imagem de Joseph Cusimano


Desde muito cedo que me identifico com as linguagens que apelam ao meu lado intuitivo. Estas linguagens sempre produziram em mim um fascínio inexplicável. E são elas que conseguem dar imagens de tudo aquilo que vejo, sinto, intuo e que penso num pensamento que é demasiado rápido para ser falado.

Gosto por isso mesmo de estudar para além da Psicologia e do ser humano, o Tarot, a Astrologia, a Mitologia e Metafísica… pelo caminho ficaram inúmeros contactos com outras expressões de comunicação catalogadas de esotéricas. As que referi, no entanto, permaneceram ou permanecem de uma forma mais ou menos metódica.

Sempre, ou melhor dizendo, quase sempre que alguém sabe que dedico alguma parte do meu tempo, dinheiro e energia a essas questões… dá-se quase como que um choque. A outra pessoa quer entrar numa luta de ideologias e numa guerra de palavras sem sentido. Numa primeira etapa eu encarava esse encontro como sendo uma verdadeira luta, e como nas lutas há sempre alguém que ataca eu colocava-me numa posição onde a defesa era o estar perfeito, o oposto complementar. Gradualmente, fui conquistando um estar em que não preciso de entrar em discussões sem sentido e cujo o propósito único é alimentar a intolerância e a ignorância de quem fala daquilo que não sabe. Esta última frase pode parecer arrogante… Mas eu não posso falar de conceitos de física, sem saber sequer o que é a física... se não souber, coloco-me numa posição em que gostaria de aprender. Não num monólogo surdo em que se remetem mil e uma questões que nem se querem ver respondidas.

Eu não me importo com facto de muitos de vós despenderem do vosso tempo, dinheiro e energia com o futebol. Não critico, nem tento de alguma forma questionar o vosso estar na vida. É o vosso, e nada tem que ver com o meu. O vosso estar não coloca em causa o meu. Não me sinto ofendida, nem atacada por essa opção. Não vos questiono se acreditam no Futebol. Eu acredito no respeito, na tolerância e na liberdade e vocês?

segunda-feira, maio 15, 2006

quarta-feira, maio 10, 2006

Há Dias Assim



Confesso que estou um pouco irritada, diria até profundamente enraivecida. Dizem que é bom que estes sentimentos aflorem no nosso íntimo, com a delicadeza e subtileza característica dessas emoções. Eu pessoalmente fico mais irritada só de pensar que estou irritada. Quando sinto então que estou irritada, a coisa toma proporções inimagináveis. Pelo menos interiormente. É a isto que os experts denominam de raiva voltada para dentro…

Quando se fala em irritação, penso eu, temos também que falar da direcção que a irritação toma. Ou seja, qual o objecto/alvo dessa irritação. Confuso?


Nós não estamos irritados pela simplicidade e pela leveza que esse sentimento nos proporciona. Estamos irritados, por exemplo, porque uma mosca lembrou-se de existir e passar pelo nosso campo de visão. Ou então, porque houve alguém que fez alguma coisa que nos desagradou (geralmente aquelas pessoas que conhecemos ou julgamos conhecer mais profundamente)... Ou então, porque acordámos com esse sentimento… (mas, para acordar com esse sentimento, alguma coisa andamos a remoer inconscientemente para essa irritação nos despertar logo pela manhã)

Pois bem, hoje fui invadida por uma das minhas pequenas e doces irritações. Daquelas que consomem alguma da minha energia anímica-mental. A que questão que se impõe é: o que fazer então com este extra de energia que me acompanha?

a) Esmurrar a primeira pessoa que esboçar um sorriso simpático e que me trate bem?
b) Contribuir graciosamente para o mal estar geral de todos aqueles com quem estou no dia de hoje? E, permitir assim que esta irritação seja contagiante tal qual como um vírus gripal mutante que suavemente se propaga a uma velocidade vertiginosa?
c) Comprar um saco de boxe e colar uma fotografia de alguém e/ou da situação que me “incomoda”?
d) Fazer uma sessão de relaxamento e visualização? Imaginar que uma luz branca percorre o meu corpo, e que estou sentada numa nuvem felpuda a inspirar essa luz branca e expirar um fumo cinzento correspondente às sensações negativas que estou a guardar no meu intimo…
e) Fingir que afinal não estou assim tão irritada e que não há nada que me esteja a incomodar? ... afinal, é apenas uma pequena comichão no dedo mindinho do pé.
f) Todas as anteriores.
g) Nenhuma das anteriores.

Curiosamente, só o facto de ter "falado" da irritação fez-me sentir bem melhor..

Bem, agora vou trabalhar a minha Assertividade.
Até já.