sábado, maio 12, 2007

O Verbo "Ajudar"

Já passaram por mim mais de 100 pessoas no processo de selecção. É muita gente. Demasiada informação para ser pensada.

Tive algumas entrevistas marcantes. Umas pela excelência, outras pela pobreza e outras ainda pelo insólito.

Ontem, entrevistei uma colega de psicologia clínica. Não a conhecia. Fiquei com pena da "minha" (se é que é minha) classe. Eu sei que não anda propriamente fácil arranjar emprego na nossa área. Entendo perfeitamente a necessidade de trabalhar, ainda para mais com uma bolsa de formação aliciante. Mas eu fico doente, juro que fico doente quando me aparecem pessoas que nem sabem ao que vêm. Numa de três possibilidades de inscrição, escolhem a única que tem uma sigla. Pergunto se sabe o que quer dizer e responde-me que não. Pergunto qual é o interesse e diz-me que é muito. Eu pergunto, mas como é que pode ter interesse naquilo que se inscreveu, se não sabe o que é?!? ... Informem-se antes de vir à entrevista.

Hoje, mais uma psicologa clínica. Em 20 minutos, repetiu 40 vezes o verbo ajudar. Diz que não sabe qual é o sonho dela. Entrou para psicologia porque queria ajudar os outros (é bonito, mas pouco profundo). Tirou psicologia porque quer ajudar os outros (é repetitivo e pode tornar-se compulsivo). No futuro vê-se a ajudar os outros com a prática da psicologia (é doentio e já estamos no campo do delírio psicótico). Mais uma vez e em consonância com a colega anterior, escolheu a sigla das 3 possibilidades de inscrição. Dizia que queria ajudar as pessoas do ponto de vista dos alimentos, é o que ela entendia por HACCP. .... É o desespero total. Só não sei se é o meu, se é o dela.

.... Escusado será dizer, mas vou dizer, perdi as estribeiras. Onde andam vocês, enquanto tiram o curso de psicologia? No 12º ano, quando se tem psicologia pela primeira vez, é natural que sintam vontade de ajudar o outro. Quando terminam o curso, percebem que não podem ajudar? Até podem dar o pino e a cambalhota de seguida. Ajudar, não. Podem ser peritos em técnicas de mundança de comportamento e podem ser facilitadores ou canais de mudança. Ajudar não. Podem ser espelhos de acolhimento e entendimento. Ajudar? Ajudem-se a vocês próprios na vossa senda pessoal. Podem iluminar, mas o outro e somente o outro é que pode ligar o seu próprio interruptor.

Quando isto terminar.... vou ver se arranjo tempo para escrever um livro. Há tanto material para ser usado que dava para escrever uma triologia.

Ps: Mais uma dica: não olhar a(o) entrevistador durante os 20 minutos de duração da entrevista não é bom sinal. Mas agrava-se a partir do momento em que estão sistematicamente a olhar para o antebraço. Mais ainda, é gritante quando passam a mão pela língua para limparem o dito antebraço.

quinta-feira, maio 10, 2007

Nem sempre é fácil...

Já pensaram nas pessoas que nos aparecem pelo caminho?

E nas situações com que nos deparamos, já pensaram?

Eu penso nisso com alguma regularidade. Tento dissecar, analisar e perceber o padrão.

E a vida vai sempre trazendo os testes. Esses, os testes, que aparecem a cada vez com camuflagens mais e mais requintadas, servem para nos alertar da necessidade de apurar os nossos sentidos não sensoriais. Afinam aquilo que precisa ser trabalhado.

Tive mais um desses testes. Reconheci aquela energia a partir do momento em que a vi. Primeiro aquele vício visceral de querer ver, sentir, cheirar, ouvir e gostar. Arrepiei-me e reconheci. "Conheço-te", pensei.

Confirma-se, reconheço-a.

O desejo quer percorre-la. Respirá-la. Cada célula do corpo estremece em sintonia e é permeável a tudo o que não pertence a este mundo. Por momentos a razão deixa de existir e a vontade da entrega é movimento inconsciente.

De repente, a memória abre a porta e pergunta: "mas isso eu já vivi, não é?"

Lamento-me ao dizer que sim.

Fico triste porque me apetece, mas não me quero em repetição. Mas fico feliz, muito feliz, por saber que já consigo ver antes de lá estar.

sexta-feira, maio 04, 2007

Intermitências

Falemos.

E continuemos a falar. E mais ainda, falemos.

No outro dia, parece que nasceu um mim uma outra pessoa. Não foi assim, de um momento para o outro. Ela andava a tentar crescer para poder ter forma cá forma. Andava à procura de uma forma nova para mim. Fui construindo. Diariamente. Lentamente. Andava ansiosa para ver como seria. Não fazia ideia de como poderia ser, sabia e afirmava que teria que ser decidida. Tinha que ser assertiva, tinha que ter acesso ao poder interior e usá-lo com clareza e objectividade. Sabia que tinha de ser uma mulher.

Senti-me assim.

Não importa o faça, desde que o faça com amor. Interiorizei. É um caminho para me levar ao algum lado. E eu sei qual é. Focalizei.

E ando intermitente.

Quanto mais próximas são as relações, com maior intensidade nos projectamos e estamos nelas. Ontem ia morrendo de susto. Mas eu sabia que estava para acontecer. Afinal, nós no fundo sabemos tudo. Ou então não sabemos, e quando usamos essa expressão... usamo-la simplesmente para colmatar uma falha interior muito grande: a de não sabermos nada. E temos que nos centrar nas evidências. E é aí que nos sentímos culpados, doentes.... ah, e já referi culpados?

A minha mãe está em processo há algum tempo. E agora? Agora é o culminar de tudo aquilo que foi sendo acumulado durante anos e anos de tristeza.

E eu?

Eu agora só me consigo adjectivar de péssima para baixo.

Eu sou a psicóloga clínica que nem filha consegue ser.

Afinal, não nasceu a nova forma em mim. Foi um vislumbre daquilo que poderia ser.