Apetece-me escrever. Só não sei sobre o quê. Até na escrita se reflecte o meu estado actual: uma melancolia que se instala, que se encosta e que se perde na minha sombra. Apetece-me gritar por socorro. Apetece chorar-me e mergulhar na dor. Apetece-me ser alguma coisa que não eu.
Não, afinal não me apetece nada disso. Afinal gostaria de ser eu. Quero ser aquilo que nasci para ser, e já! E não venham com merdas de ensinamentos que ainda estou na preparação daquilo que nasci para ser. Não acredito em tal coisa, não existe tal coisa. Ou somos ou não somos aquilo que nascemos para ser, não há preparação para tal coisa. Ou somos ou não somos. Ou estamos no caminho que é um reflexo daquilo que somos ou não estamos. E eu não sou aquilo que deveria de ser. Sou um espectro que vive na sombra daquilo que poderia ser. Sou uma ferida aberta que não cura. Sou um estar que não está. Sou a pouca coragem que pede coragem. Sou a tristeza que pede alegria. Sou a vida que pede vida. Sou o sonho que pede que tome forma. Sou o sentir que pede para sentir mais. Sou a loucura que se pede loucamente sã. Sou o abismo que pede o salto.
Não sou nada.
Em todo o instante boicoto a entrada nesse estar que sou eu. E aí sim, acredito. Sim, a todo o instante temos o poder de escolher. E eu escolho estar miseravelmente perdida na dor e de não estar a ser eu como poderia ser.
E agora sim, vou gritar: "Socorro!!! … Salva-te de ti mesma."
Afinal, já não me apetece escrever.
E agora sim, vou gritar: "Socorro!!! … Salva-te de ti mesma."
Afinal, já não me apetece escrever.